Núbia Oliveira - 67ª colocada AFRFB



Olá, amigos do Estratégia!




É com enorme alegria que hoje irei entrevistar a Núbia Oliveira, aluna do Estratégia Concursos recém-aprovada no concurso de Auditor-Fiscal da RFB. Muitos de vocês talvez não conheçam a Núbia, mas se você está nesse mundo dos concursos há algum tempo, você já deve ter ouvido falar dela. De qualquer forma, deixem-me apresentá-la! J

A Núbia é uma das concurseiras mais queridas desse Brasil, tanto pelos professores quanto pelos seus colegas. Em 2010, ela foi aprovada em 1º lugar no concurso de Analista Administrativo do MPU e 3º lugar para Técnico Administrativo, também do MPU. Nunca chegou a ser nomeada, mas não ficou sentada esperando que a nomeassem; ao contrário, seguiu na batalha rumo ao sonhado cargo de Auditor-Fiscal RFB!

É legal demais ver o quanto as pessoas podem se superar! A Núbia é casada, mãe de dois filhos e mora no interior do Pará, ou seja, longe dos grandes centros de preparação para concursos. É uma grande batalhadora!  E quem a conhece, sabe muito bem: durante esse tempo todo, ela procurou ajudar vários colegas por meio da Internet!

Meus amigos, a Núbia simplesmente arrebentou nesse concurso de AFRFB/2012! Podemos dizer que ela é uma das sobreviventes desse concurso, que talvez tenha sido o mais difícil de toda a história!

Ricardo Vale: Núbia, é um prazer falar com você! Fiquei muito feliz quando soube da sua aprovação, mas confesso que eu já previa que isso iria acontecer! Já até pensava em como iria entrevistá-la! J  Mas me diga uma coisa: qual é a sensação de ser aprovada? Como é esse sentimento de missão cumprida?

Núbia Oliveira: Que legal essa torcida, Ricardo! Para mim é uma grande honra dar essa entrevista ao Estratégia Concursos. Engraçado que, mesmo já tendo sido aprovada em alguns outros concursos, jamais senti algo similar ao que estou sentindo agora. Nos outros, a sensação era a de ter ganho uma batalha, agora, eu tenho certeza de que venci a guerra! Já faz mais de duas semanas que saiu o resultado e parece que ainda não desci das nuvens a que fui alçada! J A sensação é tão boa e tão gratificante, que até já comecei a esquecer de todas as dificuldades que enfrentei. Tudo valeu a pena!

Ricardo Vale: Núbia, você nunca foi nomeada para o MPU (ficou no cadastro reserva durante muito tempo!). Percebo que há muitos concurseiros que se prejudicam com isso e ficam eternamente esperando pela aprovação. A partir da sua experiência, quais conselhos você daria àqueles que estão nessa situação?

Núbia Oliveira: Ricardo, o MPU foi uma das pérolas que colhi no meio do caminho. Desde que passei, sempre o enxerguei assim. É claro que nutri esperanças de ser chamada, afinal eu estava em 1° lugar. Mas sempre estive consciente de que ele não era o meu objetivo final, então eu não podia parar de estudar. E mesmo que fosse, infelizmente, no nosso país, nem o 1° lugar pode confiar no cadastro de reserva. Isso é absurdo! Passar em 1° demanda uma quantidade de estudos enorme, um bocado de tempo, muito comprometimento e uma boa estratégia. Isso tudo causa um grande desgaste na vida do concurseiro, sem falar na expectativa gerada pela aprovação. Mas como ainda não temos uma lei que regulamente o cadastro de reserva de forma clara e a favor dos aprovados, o meu conselho para quem enfrenta essa situação, ou que venha a enfrentar é: NÃO SE ACOMODE! Se você já conseguiu passar em 1° (ou 2°, 3°...) é porque alcançou um excelente nível de conhecimento. Se parar por um tempo, ele vai se esvaindo e depois você terá de começar tudo de novo! Só vale se acomodar quando o seu nome estiver lá no Diário Oficial, publicado na lista do cargo dos seus sonhos! Quando não paramos de estudar, o conhecimento vai acumulando e chega a um ponto que você começa a passar em tudo que, de fato, se dedica.

Ricardo Vale: Posso imaginar o tamanho da dedicação que você teve para vencer essa batalha da RFB! Como é que você conseguiu conciliar os estudos e o fato de ser casada e mãe de dois filhos? Sua família te apoiava?

Núbia Oliveira: Não foi nada fácil conciliar a vida de mãe, esposa, dona de casa, funcionária pública e concurseira. Mas com organização e planejamento, tudo se ajeita. Acho que a palavra chave é PARCERIA. E parceria não se exige, conquista-se. Já recebi muitos e-mails de pessoas reclamando que a família não colabora. Acho que essas pessoas primeiramente precisam se perguntar: e eu, colaboro comigo mesma? Na maioria das vezes, a pessoa não tem uma postura firme com os seus, nem é realmente comprometida com os estudos. Não sei quantas vezes, nos últimos anos, o meu marido levantou-se pela madrugada e me pegou estudando. Eu não estava no facebook, eu não estava vendo filmes, eu não estava zapeando na internet, eu estava estudando! De dia, de noite, sempre procurando brechas para estudar. As amigas até cansaram de reclamar que eu não as visitava mais. E elas até diminuíram bastante as visitas a minha casa, pois sempre que chegavam, eu estava estudando. Minha mãe, que mora em outra cidade, sempre que precisava vir a minha casa, ligava perguntando qual era o melhor dia. E mesmo com ela em casa, eu pedia licença para estudar, caso tivesse que cumprir alguma meta aquele dia. Com os meus filhos tive várias conversas. A mais velha, que agora já tem 11 anos, quando queria falar comigo e eu estava estudando, abria a porta do quarto e dizia: “mãe, na sua próxima pausa eu preciso falar com a senhora”. O menor, que acabou de fazer 5, já não tinha tanta paciência. Abria a porta e dizia: “mãe, eu preciso falar com a senhora...” e já saia despejando tudo. J Mas mesmo assim, quando das primeiras palavras eu percebia que não era algo importante, eu o mandava falar com o pai ou dizia que ele precisava aguardar, pois agora eu estava estudando. Não são palavras que convencem, são atitudes contínuas e duradouras. Foi assim que ganhei, ou melhor, conquistei, a parceria e o respeito dos que me cercam. É claro que a personalidade das pessoas a sua volta também conta muito. Eu tive a grande sorte de casar com uma pessoa parecida comigo em vários sentidos. Meu marido é PRF e sabe o valor do estudo. O sonho de ser AFRFB era meu, mas ele também desejava que eu o alcançasse, e me ajudou nessa empreitada. Por vezes fazia supermercado, arrumava as crianças para irem à escola, dava banho, comida, enfim, um verdadeiro parceiro. Uma coisa que sempre me tocou muito: quando eu estava dormindo, naquele estágio quase acordada, por vezes escutei ele admoestando as crianças para que falassem baixo para que eu não acordasse. Quando estamos lutando por algo melhor para toda a família, é muito gratificante nos sentirmos cuidada por ela.

Ricardo Vale: Por que você escolheu como foco o concurso da Receita Federal? Era esse mesmo o seu sonho?

Núbia Oliveira: Falando com toda a sinceridade possível, num primeiro momento eu escolhi o cargo de Auditor da Receita por causa do salário. Era o melhor salário oferecido pelo setor público para pessoas sem formação específica. Além disso, todos os concursos anteriores tiveram vagas para o meu Estado. Descobri isso pesquisando na internet. Nunca sequer tinha ouvido falar do cargo. É da minha natureza estar sempre em busca do melhor. Com concursos públicos não haveria de ser diferente. Eu me idealizei auditora e isso virou um objetivo para mim. Coloquei-o lá num pedestal em comecei a subir os degraus para alcançá-lo. Paguei todos os “pedágios” que tinha no caminho, até alcançá-lo!

Ricardo Vale: Ao longo da sua trajetória, sei que você também teve algumas reprovações, não foi? Conte-nos um pouco sobre isso!

Núbia Oliveira: Com certeza! Foram várias! Reprovei em concursos do TRF, TRT, AFRFB, ATRFB, AFT e MDIC. Desde que me formei, em 2005, eu faço concursos. Mas até 2008, eu era daquelas que se inscrevia quando saía o edital, passava em uma banca e comprava uma apostila (que mal olhava). Não tinha a menor noção do que era o meio concurseiro. Nesse período eu nem sei quantos concursos fiz e, claro, fui reprovada em todos. Em 2008 as coisas começaram a mudar, mas ainda muito lentamente. Estudei seriamente por 40 dias para o concurso de Técnico do Seguro Social (INSS) e consegui ser aprovada em 7° lugar. A surpresa foi tamanha que eu vi que tinha um caminho a ser explorado nessa área. Comecei então a me informar, mas ainda muito timidamente. Em 2009 saiu o ATA/MF e, pela primeira vez, eu comecei a estudar com total comprometimento, já visando o cargo de AFRFB. Consegui aprovação no ATA, mas foi em uma colocação distante (meu nome só apareceu no Diário Oficial na 3ª chamada). Para mim é como se eu tivesse sido reprovada e isso me desanimou um bocado. Pensava assim: “se não consegui passar nesse agora, imagina no de auditor, que deve estar saindo”. Parei um tempo de estudar, mas aos poucos fui retornando, embora em um ritmo bem lento. Em setembro do mesmo ano saiu o edital de AFRFB e ATRFB. Ainda estava bem “crua” de conteúdo, mas por total desconhecimento da real dificuldade desses concursos, me inscrevi nos dois. Não deu outra, reprovação feia para auditor! Para analista eu até iria para a discursiva, mas fiquei pelos mínimos. Foi um grande erro, pois se eu tivesse focado no concurso de analista, é muito provável que tivesse conseguido. Engraçado que, depois de ter passado pela rotina de estudar para os concursos da RFB, parece que a vontade de estudar impregnou! J Lembro que descansei pouquíssimos dias e já comecei a pegar pesado para o concurso de AFT, que estava para ter edital publicado. Não deu outra, no final de dezembro saiu o edital e eu já tinha dado conta de ver praticamente todo o conteúdo de Direito do Trabalho. Fui com tudo, tudo mesmo, para cima desse concurso! Passei Natal e Reveillón estudando, inclusive. Depois que fiz a prova, vi que não tinha perdido em nenhum dos mínimos e conseguido uma pontuação razoável. Comecei imediatamente a focar na discursiva. Quando saiu o resultado da objetiva, tive a maior decepção da minha vida nesse meio concurseiro: eu havia ficado por 1 questão! Chorei muito, fiquei revoltada por algum tempo, pois tudo tinha dado errado nesse concurso: dos 11 pontos dados nos recursos, eu só consegui 2, e ainda tinham anulado uma questão de RLQ, que trouxe de volta ao páreo vários candidatos eliminados. Mas tinha de ser assim... quando me recuperei dessa derrota, voltei a focar no meu objetivo inicial: AFRFB. E assim vinha fazendo desde então. Ainda reprovei no concurso do TRT e MDIC (não fiz o mínimo em Língua Estrangeira). Mas também nunca mais abandonei o estudo para a área fiscal. Mesmo quando passei em 1° lugar para Analista do MPU, me mantive estudando para auditor. Em todos os outros concursos que fiz, sendo aprovada ou reprovada, as disciplinas do AFRFB continuavam na minha grade.

Ricardo Vale: O edital de Auditor-Fiscal RFB é gigante! São umas 20 matérias, não é? Um ser humano comum consegue estudar tudo isso? J Como era sua rotina de estudos? Quantas horas diárias?

Núbia Oliveira: Nossa, é muita coisa! Um ser humano só consegue com muita dedicação, planejamento, foco e persistência. Até porque, não basta estudar tudo, tem de lembrar!! E isso só é possível com constantes e periódicas revisões (pelo menos para pessoas normais como eu J). Minha rotina de estudos sempre seguia um planejamento prévio. Tudo o que eu precisava estudar naquele dia estava explicitado na planilha*, com suas respectivas fontes. Sem edital, costumava estudar de 3h a 5h diárias (líquidas). Raramente conseguia fazer mais que isso. No meu trabalho eu precisava prestar serviço por 6h/dia, sendo que semanalmente meu horário mudava (uma semana pela manhã, outra pela tarde). Para conseguir fazer o tempo render melhor, e também porque eu me sinto mais disposta, costumava dormir no horário em que não estava trabalhando e estudar a noite, depois que meus filhos iam dormir. Só para esclarecer, pois essa é uma pergunta recorrente, funcionava mais ou menos assim:

SEMANA 01:
- Trabalhar: 08h as 14h
- Dormir: 15h as 22h
- Estudar: 01h as 06h

SEMANA 02:
- Trabalhar: 12h às 18h
- Estudar: 23h as 03h
- Dormir: 04h as 11h

Poderia fazer o inverso, deixando a noite para dormir. Confesso que tentei estabelecer esse padrão várias vezes, mas o rendimento caía muito. Não só de horas líquidas (05h se tornavam 03h, no máximo), como a própria aprendizagem era diferente. O maior problema eram as tarefas “extras” que surgiam durante o dia (normalmente coisas relacionadas aos filhos e a administração da casa), que quebravam essa rotina, não me deixando dormir quando era preciso. Tentei minimizá-las ao máximo, mas nem sempre era possível. De vez em quando eu tinha de sacrificar ou o sono, ou o estudo. Por outro lado, eu procurava compensar de outras formas. Por exemplo, se tivesse de sair para resolver algo, colocava vídeo-aulas para rodar no celular e ficava ouvindo enquanto fazia outra coisa (só para matérias que eu já tivesse estudado). Levava material de estudo para o trabalho e, sempre que tinha uma folguinha, ao invés de ficar jogando conversa fora ou navegando na internet, escolhia um canto reservado e ia estudar. Costumava também vir a pé do trabalho, para poder me exercitar um pouco. Então plugava os fones de ouvido e vinha escutando. Os 40min passavam voando! Quando queremos muito algo, sempre damos um jeitinho de conciliar o que for preciso.

Depois do edital consegui tirar férias + licença, o que me deu 45 dias em casa. Nesse período eu dormia quando dava sono. O resto eu estudava. É claro que os problemas domésticos, os filhos e o marido não sumiram J, mas até eles me deram uma relativa folga. Deleguei tudo o que podia delegar e me concentrei ainda mais nos estudos. No início, ainda me exercitava um pouco, mas nos últimos 30 dias parei tudo (péssima atitude). Nesse período, estudava entre 7h e 12h líquidas/dia. Mas houve dias que, de tanta dor na coluna, eu não consegui estudar (o que atrasou deveras minha agenda). Sem edital na praça, não recomendo uma rotina dessas para ninguém.

*Todo o cronograma que utilizei pós-edital, assim como o do ano de 2012, estarão disponíveis na sala da minha história, no Fórum Concurseiros (www.forumconcurseiros.com).

Ricardo Vale: Núbia, quando você iniciou os estudos para Auditor-Fiscal RFB, estudou todas as matérias ou apenas as básicas e foi incrementando com outras matérias aos poucos?

Núbia OliveiraNo início eu me atinha a estudar as disciplinas básicas e, aos poucos, fui acrescentado outras, conforme o peso e a dificuldade de aprendizagem. As que já estavam, sempre permaneciam, embora tivessem a quantidade de horas diminuída. Antes de montar minhas planilhas, construía um ciclo, onde cada matéria que eu estava estudando aparecia. As que eu precisava me dedicar mais tempo, apareciam mais vezes. Depois, saía distribuindo-as pela planilha, na ordem determinada pelo ciclo. Tomando o cuidado de, a cada matéria distribuída, preencher também seus respectivos dias de revisão. Aos poucos esses ciclos foram ficando maiores, com mais disciplinas. À medida que outras novas disciplinas iam entrando, diminuía a quantidade de vezes que as antigas apareciam. Nunca deixei de estudar as básicas.

Ricardo Vale: Núbia, durante sua preparação, nós sabemos que você procurou sempre ajudar os colegas! Sempre que eu entrava lá no forumconcurseiros, eu via você ajudando o pessoal. Pois, então, eu queria saber se você gosta de estudar em grupo e quais as vantagens desse método.

Núbia Oliveira: Acho que com o grupo conseguimos potencializar muitas coisas, mas a maior delas é a motivação. Compartilhamos conhecimentos, dificuldades, dicas, informações úteis, mas, principalmente, nos apoiamos mutuamente. O meu grupo, no Yahoo, tinha uma agenda semanal, onde todos deviam participar, de modo a garantir sua permanência. Isso fazia com que, por mais difícil que tivesse sido a semana, pelo menos os assuntos do grupo tinham sido vistos (para quem encarava com responsabilidade e disciplina, claro). O melhor de tudo era que, durante a semana, todos estavam estudando a mesma coisa, então dava para discutir e tirar dúvidas de forma bem produtiva. Ao longo do tempo fomos reunindo uma galerinha muito boa por lá, tanto que temos 5 aprovados no AFRFB, alguns no ATRFB, CGU, MDIC, Fiscos de SP e RJ, entre outros. Isso em um universo de 40 pessoas. O grupo, para mim, foi o que mais contribuiu para que eu mantivesse a motivação ao longo do tempo. Participando ativamente não tem como você se desligar do meio concurseiro. Além disso, há a pressão, mesmo nas semanas mais complicadas, de participar da agenda do grupo, então você finda tendo uma motivação extra para estudar. Recomendo para pessoas que gostam de seguir regras e são comprometidas com o que assumem, pois sem isso, o grupo já nasce fadado ao fracasso. Outra coisa importante: manter um clima de alto astral. Tudo que é negativo se dissemina muito rápido, então, a qualquer sinal de “fumaça”, quem coordena o grupo tem de estar preparado para “levantar a torcida”. Olha Ricardo, o que aprendi nesses anos coordenando um grupo, levarei para a vida inteira! O saldo foi extremamente positivo.

Ricardo Vale: Sabemos que você mora no Pará, longe dos grandes centros de preparação para concursos (RJ, SP e Brasília). Como é estudar para um concurso do porte do de Auditor-Fiscal RFB morando tão longe assim? J Você acha que teve uma desvantagem em relação aos outros candidatos? Fez cursos presenciais? Ou estudou apenas por vídeo-aulas e cursos em .pdf?

Núbia Oliveira: Nunca fiz cursos presenciais. Sempre estudei por livros, vídeo-aulas e cursos em .pdf. Quem estuda sozinho, em casa, precisa fazer um planejamento adequando e ter muita disciplina e foco para segui-lo. E quando se trata de um concurso top como o de Auditor, isso tem de ser feito de forma profissional. Antes de começar a passar nos concursos, até achava que eu tinha alguma desvantagem. Depois concluí que isso é mito! É perfeitamente possível ter acesso aos melhores materiais/professores do mercado através da internet. Pode até ser que demore um pouco mais de tempo (ou não), mas se a pessoa souber se organizar adequadamente, ela terá todas as condições de competir em pé de igualdade com qualquer pessoa, independentemente de onde seja sua residência.

Ricardo Vale: Ao estudar por cursos em .pdf, você imprimia ou lia tudo na tela do computador?

Núbia Oliveira: Até julho, imprimia tudo. Sou míope e ler na tela do computador estava totalmente fora de cogitação. Para ficar mais em conta, eu mesma fazia a recarga do cartucho da minha impressora. Em julho, por indicação de amigos do Fórum Concurseiros, comprei um iPad, com tela retina. Foi o melhor investimento que podia ter feito! Há programas específicos que te permitem fazer praticamente as mesmas coisas que se faz com o papel impresso (iAnnotate PDF), ou com um caderno (Noteshelf, por exemplo). Além disso, conseguia carregar boa parte do meu material de estudo para onde quer que fosse! A partir daí, passei a imprimir só matérias que exigiam cálculos, por causa do espaço para resolver.

Ricardo Vale: Você tinha mais dificuldades em alguma disciplina?

Núbia Oliveira: Sim, em Contabilidade e Estatística. Em Contabilidade eu me esforcei para superar minhas limitações. Comprei um curso completo em vídeo-aulas do prof. Sílvio Sande, que foi a minha salvação! Sempre que eu tentava ir aprendendo por livros, encontrava dificuldades. Com o curso, meu entendimento passou a fluir. Acompanhei também alguns cursos do prof. Marcondes Fortaleza, no EVP, o que fez consolidar ainda mais os conhecimentos nessa disciplina. Para arrematar com “chave de ouro”, fiz o curso específico para AFRFB, do Gabriel Rabelo e Luciano Rosa, aqui no Estratégia. Foi o primeiro material escrito que realmente consegui levar até o fim, pois já tinha estudado praticamente todos os assuntos por vídeo-aulas antes. Já em Estatística... confesso que pequei feio nessa disciplina! Eu não gostava e não me esforcei para aprendê-la. Ainda comecei alguns cursos, mas quando começava a complicar, eu me sabotava e parava de estudar. Temos excelentes professores nessa área, mas eu assumi o risco de não me aprofundar, levando em consideração a relação custo-benefício. Foi um risco enorme, pois a prova poderia ter vindo com muitas questões de Estatística. No final, findou sendo uma estratégia acertada, pois nem as que eu sabia (que necessitavam apenas de conhecimentos mais iniciais), tive tempo de resolver. A P1 de auditor foi a maior prova de resistência psicológica que eu já fiz J. O tempo foi apertadíssimo!

Ricardo Vale: Como foi seu estudo para a prova discursiva?  É bom que se diga: as provas discursivas foram “de lascar”!

Núbia Oliveira: As provas discursivas nunca foram um problema para mim, felizmente. Como fui criada sem TV em casa, meu passatempo quase absoluto era a leitura. Acho que isso me trouxe um certo conforto na hora de escrever (e como eu escrevo... acho que essa entrevista vai ser a maior do site J). Confesso que, durante a primeira fase, não me preocupei com ela. Sabia que precisava aprender a matéria, pois se soubesse, escrever não seria o problema. Mesmo assim, como o tempo é muito curto, precisava treinar. E foi o que fiz depois da prova objetiva. Me matriculei no curso organizado pelo Cyonil e em mais alguns outros, e treinei discursivas diariamente, sempre cronometrando o tempo. Também troquei redações com alguns amigos. Tanto eu corrigia as que me enviavam, como tinha a minha corrigida por eles. Foi uma experiência riquíssima, de muito aprendizado. Mas, mesmo com um bom histórico com discursivas, saí da prova de AFRFB arrasada! De fato, foi “de lascar”! Nunca vi cobrarem conhecimentos tão específicos em uma discursiva. A minha estratégia foi adotar um português impecável (direto, simples e objetivo) e caprichar na forma. Porque o conteúdo... não dava para ter certeza do que o examinador queria em cerca de 60% da prova. Nunca escrevi com tanta convicção sobre algo que eu não tinha certeza. J Deu certo! Perdi apenas 1 ponto em idioma (porque na pressa esqueci de por duas vírgulas) e muito menos de conteúdo do que estava esperando.

Ricardo Vale: Núbia, quando esse edital saiu, vi muito concurseiro que se preparava há anos ficar desesperado com as novas matérias (Legislação Aduaneira e Legislação Tributária). Como foi no seu caso? Ficou calma ou também teve um momento de desespero?

Núbia Oliveira: Sinceramente, eu fiquei foi aliviada. Falavam em tantas coisas que poderiam entrar/sair, que quando o edital se materializou, eu achei ótimo. Pelo menos, as disciplinas que entraram, representavam conhecimentos extremamente úteis no dia a dia de um auditor. Se eu tinha de aprender algo novo (porque é fato que sempre há mudanças), que ótimo que seriam conhecimentos pertinentes ao cargo que estava pleiteando. Nunca tinha estudado nada parecido antes, e, claro, senti um pouco de medo. Mas nunca encontrei algo que não pudesse aprender, se eu quisesse aprender. Apenas aquele sentimento normal de apreensão diante do novo, mas em menor medida que a sensação desafiante de aprender algo diferente.

Ricardo Vale: E na reta final para o concurso? Você se concentrava nas matérias de maior peso ou distribuía seus estudos de maneira mais homogênea?

Núbia Oliveira: Concentrava-me nas de maior peso. Na verdade, as matérias novas foram as que mais me dediquei, ao lado de Contabilidade, pois sabia que aí residia a maior parte da prova. Estudei todas, claro, mas dedicando menor tempo. Junto com essa entrevista estou mandando para o Fórum Concurseiros as minhas planilhas de 2012, contemplando a preparação desde o início do ano e também a que elaborei pós-edital. Infelizmente, não consegui terminar de seguir nenhuma das duas. A primeira, porque o edital saiu antes. A segunda, porque planejei algo além da capacidade que a minha coluna tinha de me aguentar estudando. J Então, nos últimos 20 dias, cortei um bocado de coisa e me ative ao que achei mais importante. Mas cheguei bem perto do que foi previsto. E o mais importante: elas funcionaram, já que estou aprovada. 

Ricardo Vale: Quais conselhos você daria a alguém na semana anterior à prova? Ler resumos ou fazer exercícios? Estudar pesado ou pegar mais leve?

Núbia Oliveira: Ler resumos, com certeza! É isso que te deixa com a sensação de que você viu a matéria e, o mais importante, que lembra dela. Sempre leio que devemos pegar mais leve próximo a prova. E eu fiz isso quando passei no MPU. Mas na de auditor ficou impossível! Era muita coisa para revisar e absorver de última hora! Só tive cuidado em relação ao sono, pois precisaria estar disposta para enfrentar a maratona de provas. Mas, quanto ao estudo, eu estudei até no carro, vindo fazer a prova. Nada de pegar material novo na última semana! O concurseiro tem de pegar os seus, marcadinhos e já manuseados, pois são muito mais fáceis de fixar.

Ricardo Vale: E o que o concurseiro deve fazer no dia da prova? Alguma dica?

Núbia Oliveira: A minha dica é o seguinte: ao longo do seu estudo, depois que saiu o edital, sempre que se deparar com algo que o seu “time concurseiro” aponta como importante e facilmente esquecível, anote para não esquecer. No último dia, faça um check list dessas anotações (só as “top” mesmo). Eu fazia o seguinte: tudo o que achava importante ver no dia da prova, batia uma foto com o iPad. Foi bastante produtivo, pois no sábado de manhã, e também durante a viajem para a localidade das provas, eu ia olhando essas fotos. Lembro que, antes de entrar na sala, peguei o meu tablet e olhei novamente todas as fórmulas (eu tinha batido foto dos papéis que ficavam pregados na minha parede com elas). A verdade é, aproveitei o tempo ao máximo, pois o conteúdo era gigantesco.

Ricardo Vale: Desculpe-me pelo trocadilho , mas você acha importante ter Estratégia (rs) para fazer as provas da Receita Federal?

Núbia Oliveira: Importante é pouco, estratégia é essencial! Enfrentar uma prova com 20 disciplinas diferentes, com conteúdo gigante, sem uma boa estratégia, é pedir para fracassar. Não posso dizer que é impossível, mas sem um bom planejamento, acho extremamente difícil. Falando em trocadilho, quero dizer aos concurseiros que ter o Estratégia como parte de sua estratégia, a tornará muito mais eficaz. Certeza!

Ricardo Vale: O que foi mais difícil nessa vida de concurseira?

Núbia Oliveira: Nossa Ricardo, foram tantas coisas difíceis... mas acho que o maior obstáculo foi me manter estudando, sem saber ao certo quando ia sair, quantas vagas seriam, para onde seriam... engraçado que o único medo que não tive – e que é muito recorrente – era o de não ser aprovada. Não porque eu tivesse certeza do sucesso (até porque, em um concurso com tantas variáveis, é impossível a garantia absoluta), mas porque sabia que ia continuar tentando. Se não tivesse dado certo para AFRFB, esta hora eu estaria estudando exaustivamente para o AFT, com certeza! Sabia que uma hora a aprovação viria. Agora, se manter motivada e estudando por vários anos, é algo bem difícil, pois as distrações que te tiram o foco são muitas. Dei algumas pausas ao longo desse percurso para viajar com a família e para receber parentes em casa, e acho que foram bastante saudáveis. Quando voltava a estudar, a fome de aprender estava gigante! A questão aqui é programação: você sabe que vai precisar parar, então adiante o que for possível e já tenha em mente o dia da volta. E o mais importante, volte! No início é difícil mantermos o mesmo ritmo, mas aos poucos vamos melhorando.

Ricardo Vale: O que você aconselharia a alguém que vá iniciar hoje seus estudos para a Receita Federal?

Núbia Oliveira: Antes de tudo, leia um bom livro de “auto-ajuda” para concursos, pois ele é essencial para dar “alma de concurseiro”. Indico aqui os livros do Willian Douglas e Alex Meirelles. Quando for começar a estudar, de fato, pesquise uma boa bibliografia. A oferta só aumenta a cada dia, mas infelizmente em proporção inversa à qualidade. Pesquise nos fóruns, peça indicação a quem já foi aprovado, folheie na livraria, enfim, não compre no escuro. Trace um planejamento com metas diárias e factíveis. Siga a risca o que foi planejado, mas não se engesse. Se for necessário, faça alterações pontuais no decorrer do tempo. Controle o rendimento nos exercícios e o tempo de estudo. Torne-se um concurseiro profissional! Acho muito importante frequentar os fóruns especializados, pois lá pode-se tirar muitas dúvidas que irão surgir. Além disso, é um excelente local para receber orientações de concurseiros que já trilharam o mesmo caminho. Nos dias de hoje, acho que esse pode ser um grande diferencial: poder contar com a orientação de pessoas que já foram aprovadas, encurta sobremaneira o caminho.

Ricardo Vale: Você acha importante resolver muitas questões da banca examinadora?

Núbia Oliveira: Sem dúvida! De todas as bancas, mas sempre com ênfase na banca examinadora. Hoje temos acesso a muitos cursos de exercícios comentados, nas mais diversas disciplinas. Acho essencial fazê-los! Eu, por vezes, ignorei completamente os exercícios de livros (as famosas listas). Lia o capítulo e partia para a aula daquele assunto em cursos de exercícios comentados, pois assim eu aprendia muito mais. Costumava fazer assim: marcava a resposta que achava correta, mentalmente justificava o porquê do acerto e também analisava o porquê do erro das outras alternativas. Só então partia para a resposta dada pelo professor. Era bastante interessante, pois muitas vezes, apesar de ter acertado a questão, tinha adotado um linha de pensamento totalmente errada. Com a resposta correta e fundamentada ali na minha frente, ia me corrigindo e aprendendo cada vez mais.

Ricardo Vale: Qual você acha que é o maior erro dos concurseiros Brasil afora?

Núbia Oliveira: A falta de foco. A grande maioria não consegue decidir qual realmente é o cargo dos seus sonhos, então, a cada nova autorização, mudam completamente seus estudos (isso para não falar daqueles que mudam quando sai o edital). Isso é um tremendo erro! Ainda quando os cargos são compatíveis, dentro da mesma área e com muitas matérias similares, até que vai. Mas, por exemplo, está estudando para AFRFB e se interessa pela PF... não acho que seja produtivo. Além disso, mudar a grade de estudos a toda hora, prejudica as REVISÕES, o que faz com que muito do conteúdo já estudado seja desperdiçado. Não digo que não funcione, mas acho que alonga o caminho. Eu fiz alguns concursos da área jurídica durante a minha preparação para AFRFB. Mas todos foram bem conscientes. Não era qualquer um. Além disso, quando os fiz, ou permaneci estudando para AFRFB, ou já estava com muita coisa adiantada. Por isso, costumo dizer que foram “desvios programados de rota”. Acho que a maior prova disso é o depoimento do Thomas Jorgensen, 1° colocado no concurso de AFRFB, que somente fez dois concursos na vida, sendo aprovado em ambos.

Ricardo Vale: Se você tivesse que apontar algum erro na sua preparação, qual seria?  Por outro lado, quais você acha que foram seus maiores acertos?

Núbia Oliveira: MAIORES ERROS: não ter procurado me informar adequadamente no início da minha vida concurseira e ter feito algumas opções erradas agora na reta final. Passei muito tempo estudando erroneamente, peguei alguns materiais “bombas” e, com isso, perdi um bom tempo no começo da minha preparação. Agora, na reta final, também me arrependo de ter feito certos cursos ao invés de outros. Quando vi que tinha avaliado erradamente, não dava mais tempo correr atrás do prejuízo. Nesse caso, se eu tivesse alguém que conhecesse os materiais/cursos para me orientar, teria evitado isso. MAIORES ACERTOS: dar a devida atenção às revisões e ter criado o grupo. Depois de ler o livro do Meirelles, passei a desenvolver minhas planilhas com todas as revisões programadas e especificadas. Nossa, que diferença na fixação do conhecimento! Quanto ao grupo, sem dúvida, o papel dele na minha vitória foi essencial! Levarei para sempre no meu coração os bons momentos que ali vivemos.

Ricardo Vale: Para terminarmos nossa entrevista, Núbia, gostaria muito que você deixasse uma mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar onde você chegou!

Núbia Oliveira: Amigos, por vezes sonhamos com algo melhor para nós. A grande dificuldade é transformarmos esses sonhos em objetivos. Precisamos estar dispostos a pagar o preço dessa transformação. Tomar as rédeas da nossa vida, programar o futuro e começar a por em prática as ações que o tornarão realidade. Se você deseja, um dia, ocupar os melhores cargos da administração pública, precisa começar a mudar suas atitudes agora. Vai precisar abdicar de um monte de coisas, e fazer isso com gosto, sempre tendo em mente que é por algo muito maior. Saiba que tudo valerá a pena. Quando a sua aprovação vier, você sentirá que viveu para ver esse dia. Estou esperando vocês do lado de cá!


Fonte: http://www.estrategiaconcursos.com.br/depoimento/3064-nubia-oliveira-67-colocada-afrfb

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